Conversão eletrônica
 
O preço do álcool está cada vez mais próximo da gasolina. Além disso, existe falta deste combustível em algumas regiões e até o IPVA dos automóveis a álcool não tem mais desconto. Assim, aumenta a conversão de carros movidos a álcool para gasolina. Nos motores com carburador, a conversão pode ser mais demorada e até cara. Mas, nos carros com sistema de injeção eletrônica de álcool, esse trabalho pode ser simples e razoavelmente barato.
Essa "conversão eletrônica" custa (com chip à base de troca, mais a mão de obra de instalação) em torno de R$ 450,00, incluindo a revisão do sistema e limpeza do bico injetor. Demora entre uma e duas horas e pode ser feita em modelos de várias marcas.

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Além do desenpenho e
consumo...

Esse serviço (com algumas exceções) é feito apenas em motores a álcool com injeção monoponto (um só bico injetor para todos os cilindros), já que foram fabricados poucos veículos a álcool com injeção multiponto. Ele consiste basicamente em adequar a curva do avanço da ignição e modificar o fluxo da injeção para gasolina, em motores a álcool com taxa de compressão próxima de 12:1, ainda que a taxa máxima recomendável para um motor rodar com gasolina comum seja em torno de 9,5:1. Com essas modificações, o carro pode utilizar gasolina comum sem problemas, segundo Ronald Funari, técnico em injeção. No caso do Kadett, Ipanema e Monza 1.8 ou 2.0, o chip original (desenvolvido especialmente para motor à álcool) é trocado pelo chip (também de fábrica) do modelo similar a gasolina, que passa por um remapeamento.

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...outra preocupação foi com o
nível de emissões...

A conversão do álcool para gasolina, com a reprogramação do chip, pode ser feita também em modelos a álcool da linha Fiat, com injeção monoponto, como uno e Fiorino 1.5 e ainda Tempra i.e (também monoponto). Na linha Ford/VW (fabricados pela Autolatina), que usam injeção monoponto a álcool é feita pela FIC (divisão da Ford), o chip é importado e a sua troca acaba saindo bastante cara. Nesse caso, é mais viável trocar os pistões do motor a álcool pelos pistões do motor a gasolina - para diminuir a taxa de compressão - além de substituir o módulo eletrônico e alterar a pressão do TBI.

MECÂNICA acompanhou o trabalho de conversão de uma Ipanema a álcool 1993, equipada com injeção monoponto (um só bico injetor central para os quatro cilindros), com cerca de 64 mil km rodados. Esse carro tinha o sistema EFI (Eletronic Fuel Injection) da General Motors, também chamado de TBI (Throttle Body Injection), ou "injeção no corpo da borboleta".

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...para atender as normas de
controle de poluição.
 

O serviço foi feito pela oficina Finardi (SP), que instalou um chip específico - desenvolvido pelo técnico Ronald Funari - , similar ao que vai na centralina do veículo a álcool, mas reprogramado para funcionar em um motor a gasolina. A instalação desse chip dispensa a abertura do motor, troca de pistões, da junta do cabeçote, assim como sistema de injeção, mangueiras... tudo que seria necessário na conversão convencional de um carro a álcool com carburador, por exemplo. Em alguns casos, Funari opta por substituir também a válvula termostática (que controla o fluxo de água entre o radiador e bloco) para que motor transformado para gasolina trabalhe com menor temperatura. E o mais importante: com o novo chip reprogramado, a taxa de compressão original do motor a álcool não precisa ser modificada, segundo Funari.

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Dinamômetro portátil usado
durante testes

MECÂNICA mediu o desempenho da Ipanema antes e depois da conversão do álcool para gasolina, utilizando um percurso urbano de 35 km, de trânsito intenso. Rodando já com gasolina a Ipanema se mostrou mais econômica: fazia 6 km/litro na cidade com álcool e passou a fazer 8,4 km/litro com gasolina. Na estrada (à velocidade constante de 100 km/h, em quinta marcha), a Ipanema fazia 10,2 km/litro a álcool e passou a fazer 14,4 km/litro a gasolina, sem apresentar sinais de pré-detonação (conhecida como "batida de pino"). O mais surpreendente é que não há falta de torque em baixas ou altas rotações. Segundo Funari, o carro se enquadra dentro das normas do Programa de Controle de Emissões de Poluição, a serem exigidas a partir deste ano pela inspeção Veicular.


O serviço de conversão pode ser realizado da seguinte maneira:
1. Em primeiro lugar, retire todo o álcool do tanque de combustível. Para isso, remova a mangueira de retorno de combustível (com marca amarela), que sai da injeção de combustível e vai para o tanque de combustível. Ligue uma mangueira extra no bocal, para que o álcool que sai do retorno seja colocado num galão. Para isso, o motor deve ser ligado e ficar funcionando por algum tempo em marcha lenta para que a bomba elétrica jogue o combustível para fora, pelo retorno, até o motor começa a falhar (que identifica que o combustível está chegando ao fim do tanque). 
 

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Não adianta acelerar o motor, pois a pressão na linha de combustível é constante. Cuidado com fogo ou faísca no local. Se a bomba elétrica de combustível (que nos carros nacionais geralmente fica do lado externo do tanque) estiver em mau estado, o retorno vai liberar álcool em pequena quantidade. Nesse caso, o melhor é trocar também essa bomba;

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2. Remonte a mangueira de retorno;

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3. Coloque gasolina comum no tanque do veículo, para não esquecer desse "detalhe" depois;

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4. Remova o módulo eletrônico central de injeção ("centralina"), na lateral direita, junto a parte inferior do painel, dentro da cabine, no caso do Kadett (essa posição varia de carro para carro), para que se possa fazer a troca do "Memcal", como a GM chama o chip;


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5. Retire o chip original. Coloque o chip novo no lugar, tomando as mesmas precauções;

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6. No motor, remova a caixa do filtro de ar para ter acesso ao injetor central TBI. Aproveite para checar o estado do filtro de ar; se estiver sujo, troque;

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7. Uma vez sem o filtro, pode-se optar por trocar o bico injetor de combustível (que no álcool originalmente tem capa plástica de cor branca) pelo de cor azul (para motores de Kadett a gasolina). A outra opção (bem mais barata) é trocar a mola de calibragem do regulador de pressão do próprio bico injetor, já que se pode aproveitar e manter o bico injetor original do motor a álcool. O resultado em ambos os casos é muito bom;

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8. No caso de troca da mola, será preciso desmontar o regulador de pressão para retirá-la. Nesse ponto do serviço, você pode também optar por retirar ou não o reservatório extra de gasolina (da partida a frio, original do motor a álcool) do veículo. Se a conversão for definitiva pode-se tirar esse reservatório, mas deve-se tampar o orifício da injeção de gasolina da partida a frio no coletor de admissão. Já se a intenção é reconverter o carro posteriormente para álcool, deixe esse reservatório no local, não se esquecendo de desligar os conectores tanto da válvula solenóide (que controla a passagem do combustível) como do motor elétrico ("bombinha") que envia a gasolina do reservatório para o motor na partida a frio;


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9. Confira o avanço inicial do sistema de ignição, que é de nove graus para motores 1.8 de Kadett tanto a álcool como gasolina. Para realizar essa checagem, a injeção deve estar travada. Essa verificação só pode ser realizada por iniciados, pois exige que se "trave" a injeção com um "jump" (terminal de computador), ligando apenas dois de uma série de pinos do conector de diagnóstico (plugue pelo qual é feita a análise eletrônica do sistema de injeção) e "enganando" a injeção;

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10. Depois remonte o filtro de ar e a seguir cheque o funcionamento do veículo.