Este
Dart 69, primeiro Dodge nacional, cai nas mão de irmãos
engenheiros. Após 14 anos recebendo veneno afinado, chegou aos
320 cv medidos em Dino.
Até quem não pe fã de Dodge pira neste Dart branco,
inteirão e com veneno de sobra para rua. Seu destino estava incerto
quando seu primeiro dono faleceu, e o deixou no inventário da família.
Felizmente, a sina deste Dojão com apenas 45.000 Km, mudou quando
seu anúncio saiu no Estadão de 1989.
O carro que era de Sorocaba, interior de São Paulo, foi adquirido
por dois irmão de Jundiaí, fanáticos por Dodges.
Os figuras em questão são Salvador e Antônio Afonso
Cascaldi, engenheiros elétricos e mecânico, respectivamente.
Para transformar o Dart num legítimo Street Rod, os Cascaldi usaram
um Charger fim de carreira, que virou doador de peças e detalhes.
Tudo Começou com a repintura e troca de estofamento, únicas
coisas que eles mesmos não fizeram. Mesmo assim desmontaram o carango
e acompanharam a pintura, que não pediu funilaria alguma.
Depois disso é que o ronco do motor começou a engrossar.
Chegando hoje aos "estalões" que o V8 manda pelos escapes.
Dojeitos em Ação
Logo
que a pintura foi concluída, descartou-se o uso de frisos, logotipo
e teto de vinil original. A idéia era fazer um Dodge "bandido",
por isso a adoção da grade dianteira do Charger R/T. Os
faróis foram trocados por outros novos, e no interios bancos com
espuma injetada e couro negro.
Os vidros brancos também foram embora, dando espaço a
outros Ray-ban, com película verde clara, os "Dojeiros"
começam a pesquisar receitas em revistas gringas, para depois comprar
as peças para o motorzão.
A preparação seguiu vários níveis, até
chegar ao que está hoje, quase que limite para andar na rua. Primeiramente,
aumentou-se a cilindrada do V8 5.2, usando pistões forjados JBL
flat-head (cabeça-plana). Apenas com isso - uma medida de última
retífica - se chegou próximo aos 5.4 litros.
Com pistões mais largos e o rebaixamento do cabeçote em
quase 1,5 mm - o máximo que dá para encaixar o coletor -
a taxa de compressão pulou de 6,8:1 para 10,5:1, ainda queimando
gasolina comum.
Os cabeçotes foram trabalhados, ganhando maior fluxo e válvulas
de admissão com 52 mm. Para o motorzão falar alto, um comando
bravo da Crane Cams, de 294° x 304º (lobe center de 112º),
que funciona com tuchos mecânicos da mesma marca e varetas de aço
Iskenderian.
Outras "cositas" que deram à Iskenderian do Tio Sam
algun dólares foram: engrenagem e corrente dupla do comando, balanceiros
roletados com regulagem, molas triplas e pratos de molas. Acima disso
tudo, tampas de válvulas Mopar em alumínio aletado, para
refrigeração otimizada. As únicas peças originais
restantes, são bielas e virabrequim. Até mesmo as bronzinas
são especiais, da Clevite.
Na carburação usa-se um Holley Quadrijet Doublé
Pump 750 cfm, com base Moroso para maior fluxo - tipo tunnel ram - e linha
de combustível também Holley. O coletor é um Edelbrock
Victor Jr. e quem puxa a gasolina do tanque é uma bomba elétrica
Holley, com dosador para regular a pressão.
O sistema de escape traz coletor Kooker 8 x 2 e canos de 2,5".
Neste sistema, o cuidado com o ronco foi tamanho, que o Dojão foi
rodando até o Paraná, para ter canos em "H" passando
por baixo do eixo. "Com isso o ronco do escape ficou mais encorpado,
e o fluxo de gases é melhor equalizado, sem retrocesso quando se
tira o pé", completa Antônio Afonso.
Para tracionar a força deste vulcão, transmissão
Clarck com quatro marchas no chão - original era três marchas
na coluna - e relação de diferencial mais longa, de 3.07.
Platô e embreagem são especiais remanufaturados. Sem blocante
algum, a roda direita traseira é que gosta de arrancar asfalto.
Tanto a bomba d'água como a de óleo são de alto
volume, da Milodon. Na parte de ignição, só a nata:
módulo e distribuidor Mopar, bobina Accel e velas Champion Splitfire
grau 9. Segundo Afonso, o responsável pela preparação,
o grau inicial de avanço é de 17, final 38. Mesmo assim,
em baixos giros o Dojão vai bem, e não bate "pino".
No final, esta receita se mostrou eficiente. Segundo medições
no Dino Mustang da Funari Automitiva, o Dart tem no motor - adicionando
aí 30% de perdas pela pesada transmissão até os rolos
- 320 cv a 5.200 rpm, e 43 kgm de torque a 4.750 rpm.
Vale dizer que durante o teste, o contagiros não estava funcionando
e, durante as esportivas trocas de marcha do Antônio - o irmão
mais louco - o câmbio não agüentou. Pelo jeito os rolamentos
foram para o saco.
Justo quando Ronald Funari ajeitou um instrumento para pegar as "rpm"
pelos cabos de vela. Se desse para acelerar despreocupado até umas
6.500 rpm, provavelmente a plana curva traria mais uns 100 cv. Fica para
a próxima...
Suspensões e Freios
Para segurar o Dartão no chão, foi preciso alterar bem a
suspensões. Assim, usaram amortecedores mais firmes e com dupla
ação. No sistema dianteiro, com mola de torção
regulável, a dupla rebaixou a carroceria em 5 cm. Atrás
a mesma distância foi para baixo, porém usou-se uma espira
extra no feixe de molas.
Além disso, tiveram o cuidado de trocar as buchas da suspensão
por outras, de poliuretano, e as rodas 14" originais por outras Momo
17" x 8", com pneus Potenza 235/45.
A última alteração foi trocar a barra de torção
por outra mais grassa na dianteira, cromadona para melhor visual. Com
isso, o Dojão ficou firme, mesmo acima dos 200 km/h.
O sistema de freios, com quatro tambores originais, também pediu
melhoras. Afonso decidiu então usar discos dianteiros da picape
D-20, com pinças triplas o Charger. Atrás permaneceram os
tambores. Agora o sedam de 1.500 Kg freia bem, assim como acelera.
Após cerca de US$ 12.000 gastos no xodó, a pergunta mais
comum é para saber se eles vendem o Dart, agora com 80.000 km,
Provavelmente este Dodge passará para seus herdeiros, pois já
virou membro da família há tempos. |